É impossível
compreender ou explicar a natureza de qualquer ser exceto através da Evolução,
que é sempre um desenvolvimento de dentro para fora, isto é, a expressão do
espírito ou da consciência através da inteligência adquirida. A vontade
do espírito produziu tudo o que existe.
Se nós entendermos
que a vontade inteligente está na base de tudo o que existe, que ela é a causa
de tudo o que ocorre e é a Criadora no Universo, talvez possamos ter uma
ideia do que é necessário saber para usar adequadamente as nossas energias.
Nós todos existimos
como criadores no meio das nossas criações. Há criadores abaixo de nós na
escala da inteligência. Estamos em outro lugar, com uma visão mais ampla, um
fundo maior de experiência adquirida; assim, podemos ver que abaixo de nós,
infinitamente abaixo de nós, há seres tão pequenos que muitos deles
poderiam ser reunidos na ponta de uma agulha. No entanto, os cientistas,
depois de examiná-los de muitos modos, não podem negar que estes organismos
infinitesimais possuem uma certa inteligência, uma capacidade de procurar o que
gostam e de evitar o que não gostam. A partir do menor ponto de percepção e
ação que se possa conceber, há um campo sempre crescente de expressão, de
evolução, um desenvolvimento cada vez maior na direção de uma escala mais
ampla de existência. Esta evolução da inteligência, ou alma, ocorre muito
lentamente nos reinos inferiores, ganha mais rapidez no reino animal, e no
homem ela atinge aquele estágio em que o próprio ser sabe que existe, sabe que
é consciente, sabe que pode entender até certo ponto sua própria natureza e a
natureza dos seres abaixo dele, e ver as relações deles entre si.
O homem atingiu
agora um ponto em que começa a se perguntar o que mais existe que ele possa
conhecer. Ele deixou de pensar exclusivamente nas coisas materiais; ele está
percebendo sua própria natureza, e pergunta: “o que sou eu, de onde venho e
para onde vou? ”
Se temos estas
ideias, podemos perceber que deve ter havido no passado alguns seres humanos
que se fizeram estas mesmas perguntas que estamos fazendo, e que deram os
passos necessários para chegarem a um nível mais elevado de experiência do que
aquele em que estamos agora. São estes mesmos seres, agora mais elevados
que nós, que formam uma camada de consciência, de conhecimento e de poder, que
nós não temos -; homens que passaram pelos estágios em que estamos agora.
São eles que de tempos em tempos vêm a este mundo como Salvadores.[1]
Se somos cristãos,
olhamos para o advento de um destes Seres, no passado, e pensamos que Ele é
único. No entanto ele veio, em Seu tempo, apenas para uma pequena nação;
ele mesmo disse que veio apenas para os judeus. Por acaso não sabemos que todas
as civilizações e todas as tribos que existiram em qualquer tempo sempre
tiveram registros similares sobre algum grande Personagem que surgiu entre
eles?
Em todas as
religiões há o registro e a tradição de algum grande Personagem. E nós
descobrimos um fato assombroso ao estudar as escrituras e os ensinamentos de
outras épocas: todos estes grandes Professores ensinaram as mesmas doutrinas.
Não há diferença entre os ensinamentos de Jesus e os ensinamentos de Buddha,
embora estejam registrados em línguas diferentes e um período de tempo de
seiscentos anos tenha separado os dois grandes Professores. E este fato
também ocorre em relação a todos os outros numerosos Salvadores de diferentes
épocas e povos -; todos eles ensinaram as mesmas ideias fundamentais.
Este fato sugere que
há um conjunto de Homens, de seres humanos aperfeiçoados, que resultaram de
evoluções e civilizações passadas; nossos Irmãos Mais Velhos, na verdade,
que adquiriram e são os Guardiães do conhecimento e da experiência obtidos ao
longo de longas eras. O conhecimento que eles têm é de fato a própria Ciência
da Vida, porque inclui cada departamento da existência, da natureza.
Eles conhecem a realidade e os processos dos seres abaixo do homem e acima do
homem assim como nós conhecemos os processos da vida comum da experiência diária.
Eles registraram e preservaram este conhecimento, e lembram dele do mesmo modo
como nós lembramos das experiências e acontecimentos do dia de ontem.
Eles não ampliaram o
seu poder de saber. Cada um de nós tem o mesmo poder de saber que eles possuem.
Mas eles ampliaram as funções dos instrumentos que possuem. Eles melhoraram o
que possuem. Eles têm cérebros melhores. Têm corpos físicos melhores. Como os
adquiriram? Fizeram isso através do cumprimento de cada dever colocado diante
deles, fossem quais fossem as consequências para eles próprios. Não pensavam em
adquirir poder e conhecimento para si mesmos; pensavam apenas em obter poder
para beneficiar todos os seres vivos. Ao fazer isso, abriam as portas do poder
do Espírito interior.
Nós fazemos exatamente
o oposto. Contraímos o poder divino do Espírito e o colocamos dentro de buracos
do tamanho de cabeças de alfinete, feitos de desejos pessoais e egoísmo. Não
vemos isso? Não vemos que nós próprios impedimos o uso do poder dentro de nós,
porque nossas ideias são egoístas, pequenas, mesquinhas?
O grande trabalho da
evolução ocorre de dentro para fora. A Alma é o Observador; ela olha
diretamente para as coisas. A ação da vontade flui através das ideias. As
ideias dão as direções. Com ideias pequenas, a força é pouca; com grandes
ideias, a força é grande; a Força em si mesma é ilimitada, porque é a
força do Espírito, infinita e inesgotável. O que nos falta são ideias
universais. Necessitamos despertar em nós mesmos o poder de percepção que irá
abrir diante de nós todo o campo do ser. Uma corrente não pode erguer-se
acima da sua fonte.
A natureza do homem
nunca pode ser compreendida, nem sequer parcialmente, através das ideias e dos
métodos que os psicólogos e cientistas modernos, e as religiões populares, têm
seguido. Todos eles operam a partir da vida física, e muitos deles acreditam
que haja uma vida apenas. Eles registram e classificam muitos tipos de
experiências, sem qualquer base firme sobre a qual colocar o seu
pensamento, a sua razão, e assim nunca chegam a qualquer conclusão
definida ou conhecimento real sobre o que é o ser humano, ou sobre os poderes
que o ser humano pode ter. Este é o uso que eles fazem do poder criativo,
mas é um uso limitado, é um mau uso. Aqueles que seguem este caminho
normalmente têm algum propósito egoísta na base do seu desejo; há alguma
coisa ou alguma vantagem que desejam alcançar para si mesmos. Este não é o
caminho correto.
A teosofia afirma
que se o desejo e a aspiração forem inegoístas, nobres, universais, então a
força que flui através do indivíduo será grande, nobre e universal em seu
caráter. Afirma também que cada ser humano possui em si mesmo os mesmos elementos
e as mesmas possibilidades que qualquer outro, inclusive os seres mais nobres e
mais elevados neste sistema solar ou em qualquer outro. Isso coloca o ser
humano em uma posição muito diferente de onde ele é colocado pelas nossas
religiões, nossa ciência, ou nossa filosofia ocidental.[2] Todas
elas tratam o homem como se ele fosse seu corpo ou sua mente, como se ele fosse
a criatura, e não o criador.
O corpo muda; nós
mudamos as nossas mentes; mas há Alguma Coisa em nós que não muda, que não
depende de mudanças, sejam mudanças do corpo, da mente ou das
circunstâncias; este Algo é o criador, o governante, o vivenciador de
todas as mudanças de qualquer tipo. É esta parte da nossa natureza – o real Ser
Humano dentro de nós – que devemos conhecer em sua essência. Se pudermos atingir
um ponto de percepção que nos permita captar o fato que é a presença do
Espírito dentro de nós, teremos alcançado um ponto em que é possível um
conhecimento de nós mesmos; e se tivermos um conhecimento de nós mesmos, então
teremos, através dele, um conhecimento de todos os outros seres.
Os grandes
Professores destacam o fato de que a base real da natureza humana é a
Divindade, o Espírito, Deus. A Divindade não é algum outro ser, por maior
que seja. Não é algo externo. Ela é o que há de mais elevado em nós
mesmos e em todos os outros. Isso é o Deus, e tudo o que qualquer homem sabe
deste Espírito é o que conhece em si mesmo, de si mesmo, e através de si
mesmo. Esta é a ideia que todos os antigos expressam ao dizer que há
apenas um Ser, e que devemos ver o Ser em todas as coisas e todas as coisas no
Ser. Isto é o que todos nós fazemos até certo ponto; nós vemos o Ser,
mais ou menos. Nada é visto fora de nós; tudo o que nós vemos ou sabemos está
dentro de nós. Mas nós pensamos no Ser em nós como algo mortal, perecível, como
se ele não tivesse existência fora deste corpo e desta mente, e como se ele
fosse algo separado de todas as outras formas do Ser.
Se tivéssemos dentro
de nós e como nosso alicerce todo o poder que existe no universo, e não
tivéssemos um canal pelo qual aquela energia pudesse fluir – ou tivéssemos
apenas um canal estreito, torcido e distorcido – aquele grande Poder não
seria útil para nós. Seria como se não existisse. Para abrir o canal é preciso
entender a base real: o Deus interior, imortal e eterno, a Fonte de todo ser,
os nossos verdadeiros seres; e em segundo lugar, entender que toda ação procede
daquela Fonte e Centro do nosso ser e de todos os seres.
Quem é, então, o
construtor de tudo? Como foi provocada toda esta evolução? Todos os seres
envolvidos nela fazem tanto o mundo como os seus habitantes. Tudo o que existe
é autoproduzido, autoevoluído -; a criação dos seres espirituais atua em cada
um, sobre cada um, através de todos eles, reciprocamente. A força inteira da
evolução, e todo o poder que está por trás dela, é a vontade humana, no que diz
respeito à humanidade. Nós não compreendemos que toda forma ocupada por
qualquer ser é composta de Vidas, cada uma delas passando por uma evolução
própria, ajudada, impelida ou dificultada pela força da forma mais elevada de
consciência que a gerou. Porque este universo é Consciência ou Espírito corporificados.
E assim como uma só gota de água contém dentro de si todos os elementos e
características do oceano inteiro, assim também cada ser, por mais baixo que
seja o seu grau de inteligência, contém dentro de si a potencialidade e a possibilidade
daquilo que é de suprema elevação. A vontade do Espírito em ação produziu tudo.
A grande mensagem da
teosofia tem dado a cada buscador interessado o meio pelo qual ele pode
conhecer a verdade sobre si mesmo e sobre a natureza. Assim como os Irmãos Mais
Velhos ajudaram no passado, eles têm ajudado no presente. Tudo o que a
humanidade necessita foi dado a nós. Mas como você consegue transmitir a
alguém aquilo que ele não quer? Como você consegue fazer com que entre na mente
de alguém o que a mente não deseja receber?
É preciso que haja
uma mente aberta, um coração puro, um intelecto ardente, uma clara
percepção espiritual, antes que haja qualquer esperança para nós. Enquanto
nós estivermos centrados em nós mesmos, enquanto estivermos satisfeitos com o
que sabemos e com o que temos, esta grande mensagem não será para nós. Ela é
para os famintos, os cansados, para aqueles que estão desejosos de
conhecimento, para aqueles que veem a absoluta escassez daquilo que foi
colocado diante deles como conhecimento por parte daqueles que se apresentam
como professores. Ela é para aqueles que não encontram uma explicação em parte
alguma para os mistérios que nos rodeiam, que não conhecem a si mesmos, que não
compreendem a si mesmos. Para eles, há um caminho; para eles há alimento mais
do que suficiente; para eles todo este Movimento é mantido vivo por uma única
vontade, a vontade dos Irmãos Mais Velhos, que têm preservado estas grandes
verdades eternas através de momentos melhores e piores, de modo que a
humanidade pudesse ser beneficiada; sem desejar recompensa alguma, sem desejar
qualquer reconhecimento, mas desejando apenas que os Seus companheiros de
humanidade, Seus irmãos mais jovens, possam conhecer, possam compreender o que
Eles sabem.
Robert Crosbie
NOTAS DO EDITOR:
[1] O termo “salvadores”, neste contexto, significa apenas
instrutores divinos e movidos por compaixão universal. Tais Professores não
“salvam” ninguém no sentido cristão do termo. Seu objetivo não é esse. O
instrutor divino dá elementos para que todos os seres resgatem a si mesmos,
gradualmente, da ignorância e do sofrimento desnecessários. Cada ser deve
libertar-se por mérito próprio. Os Mestres colocam uma sabedoria divina ao
alcance dos seres humanos, mas não “salvam” ninguém. (CCA)
[2] Robert Crosbie se refere aqui à filosofia ocidental
recente. O problema não ocorre com a filosofia ocidental clássica. (CCA)
Texto retirado de:
O Site acima citado reproduziu este texto do boletim mensal “O Teosofista”, edição de julho de 2008.
Foi traduzido do livro “The Friendly Philosopher”, de Robert
Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, USA, 416 pp., 1945, pp. 268-273.
Título original: “The Creative Will”.
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