Uma Carta dos Mahatmas Explica: ‘Deus’ É Uma Ilusão Fabricada Por
Sacerdotes
Nem a nossa filosofia,
nem nós próprios acreditamos em um Deus, e muito menos em um Deus cujo pronome
necessita uma inicial maiúscula. Nossa filosofia se encaixa na definição de
Hobbes[1].
Ela é preeminentemente a ciência dos efeitos pelas causas e das causas por seus
efeitos, e já que ela é também a ciência das coisas surgidas do primeiro
princípio, segundo a definição de Bacon[2],
antes de admitir qualquer primeiro princípio devemos conhecê-lo, sem o que não
temos o direito de admitir nem mesmo sua possibilidade. Toda sua explicação se
baseia sobre uma admissão isolada, feita para efeitos de argumentação em
outubro passado. Foi-lhe dito que nosso conhecimento estava limitado ao nosso
sistema solar: portanto, como filósofos que desejam ser dignos do nome, não
poderíamos negar nem afirmar a existência do que você qualificou como um ser
supremo, onipotente, inteligente, de um tipo além dos limites do sistema solar.
Mas embora tal
existência não seja absolutamente impossível, a menos que a uniformidade da lei
da natureza se rompa naqueles limites, nós sustentamos que é altamente
improvável. Mesmo assim, rejeitamos de modo extremamente enfático a posição do
agnosticismo neste sentido, e com relação ao sistema solar. Nossa doutrina não
conhece meios-termos. Ela afirma ou nega, porque só ensina aquilo que sabe que
é a verdade. Portanto, nós negamos a Deus como filósofos e como budistas.
Sabemos que há vidas planetárias e outras vidas espirituais, e sabemos que em
nosso sistema solar não existe coisa tal como Deus, seja pessoal ou impessoal.
Parabrahm não é um Deus, mas a lei absoluta imutável, e Ishwar[3]
é o efeito de Avidya e Maya, ignorância baseada na grande ilusão. A palavra
“Deus” foi inventada para designar a causa desconhecida daqueles efeitos que o
homem tem admirado ou temido sem entender, e já que nós alegamos e somos capazes
de comprovar o que alegamos – isto é, que conhecemos aquela causa e outras
causas – temos condições de sustentar que não há Deus ou Deuses atrás daqueles
efeitos.
A idéia de Deus não é
uma noção inata, mas adquirida, e nós só temos uma coisa em comum com as
teologias – nós revelamos o infinito. Mas enquanto atribuímos causas materiais,
naturais, sensíveis e conhecidas (por nós, pelo menos) a todos os fenômenos que
procedem do espaço, da duração e do movimento infinitos e ilimitados, os
teístas atribuem a eles causas espirituais, sobrenaturais, ininteligíveis e
desconhecidas. O Deus dos teólogos é simplesmente um poder imaginário, un loup
garou[4]
na expressão de d’Holbach – um poder que até agora nunca se manifestou. Nossa
principal meta é libertar a humanidade deste pesadelo, ensinar ao homem a
virtude pelo bem da virtude, e ensiná-lo a caminhar pela vida confiando em si
mesmo, ao invés de depender de uma muleta teológica que por eras incontáveis
foi a causa direta de quase toda a miséria humana. Podemos ser chamados de
panteístas – de agnósticos, NUNCA. Se as pessoas estiverem dispostas a aceitar
e a ver como Deus nossa VIDA UNA, imutável e inconsciente em sua eternidade,
poderão fazê-lo e assim manter mais um gigantesco equívoco de denominação. Mas
então terão de dizer como Spinoza que não há e não podemos conceber qualquer
outra substância além de Deus, conforme aquele famoso e infeliz filósofo[5]
diz em sua décima-quarta proposição: “praeter Deum neque dari nequeconcipi
potest substantia” – e assim tornarem-se panteístas... Quem, exceto um teólogo
formado no mistério e no mais absurdo sobrenaturalismo pode imaginar um ser
autoexistente, necessariamente infinito e onipresente, fora do universo
manifestado que não tem fronteiras? A palavra infinito é apenas uma negativa
que exclui a idéia de limites. É evidente que um ser independente e onipresente
não pode estar limitado por nada que seja externo a ele; que não pode haver
nada externo a ele – nem mesmo um vácuo; portanto, onde haverá espaço para a
matéria? Para aquele universo manifestado, mesmo que este último seja limitado?
Se perguntarmos aos teístas se o Deus deles é vácuo, espaço ou matéria, eles
responderão que não. E no entanto eles sustentam que o Deus deles penetra a
matéria embora ele próprio não seja matéria. Quando nós falamos da nossa Vida
Una, também dizemos que ela não só penetra, mas é a essência de cada átomo de
matéria; e que, portanto, ela não apenas tem correspondência com a matéria mas
possui também todas as suas propriedades, etc. – conseqüentemente, é material,
é a própria matéria. Como poderia a inteligência proceder ou emanar da
não-inteligência? “– você insistia em perguntar no ano passado. “Como poderia
uma humanidade altamente inteligente, o homem, que é o coroamento da razão, ter
evoluído a partir de uma lei ou força cega, não-inteligente!” Mas uma vez que
raciocinamos nesta direção, eu posso perguntar por minha vez, como poderiam
deficientes mentais congênitos, animais que não raciocinam, e o resto da
“criação” ter sido criados ou haver evoluído a partir de uma Sabedoria
absoluta, se esta última é um ser pensante inteligente, o autor e governante do
Universo? “Como?” diz o dr. Clarke, em seu exame das provas da existência da
Divindade. “Deus que fez o olho, não enxergará? Deus que fez o ouvido, não
escutará?” Mas de acordo com este modo de pensar eles teriam que admitir que,
ao criar um deficiente mental, Deus é um deficiente mental; que aquele que fez
tantos seres irracionais, tantos monstros físicos e morais, deve ser irracional
...
... Nós não somos
advaitas[6],
mas nosso ensinamento com respeito à vida una é idêntico ao dos advaitas com
relação a Parabrahm. E nenhum verdadeiro advaita treinado filosoficamente
jamais se definirá como agnóstico, porque sabe que ele é Parabrahm e idêntico em
todos os aspectos à vida e à alma universal – o macrocosmo e o microcosmo, e
sabe que não há Deus separado dele, nenhum criador, como nenhum ser.
Tendo encontrado a
Gnose, nós não podemos esquecê-la e transformar-nos em agnósticos.
... Se nós fôssemos admitir
que até mesmo os mais altos Dhyan Chohans podem cair em alguma ilusão, então de
fato não haveria realidade para nós, e as ciências ocultas seriam uma quimera
tão grande quanto Deus. Se há um absurdo em negar aquilo que não conhecemos, é
ainda mais absurdo atribuir a ele leis desconhecidas.
Segundo a lógica, o
“nada” é aquilo do qual tudo pode ser corretamente negado e do qual nada pode
ser corretamente afirmado. Portanto, a idéia, seja de um nada finito ou um nada
infinito, é uma contradição em termos. E no entanto, de acordo com os teólogos,
“Deus, o ser auto-existente, é extremamente simples, imutável e incorruptível;
sem partes, sem figura, movimento, divisibilidade ou quaisquer outras
propriedades como estas, que encontramos na matéria. Porque todas estas coisas
implicam muito clara e necessariamente finitude em sua própria noção, e estão
totalmente afastadas da infinidade completa”. Portanto, o Deus aqui oferecido à
adoração do século XIX perde toda qualidade sobre a qual a mente do homem seja
capaz de ter qualquer julgamento.
O que é isto, na
verdade, além de um ser do qual eles não podem afirmar coisa alguma que não
seja negada instantaneamente? A própria Bíblia deles, no Apocalipse, destrói todas as perfeições morais que eles
empilham sobre ele, a menos, de fato, que qualifiquem como perfeições aquelas
qualidades que a razão e o senso comum de qualquer outro homem chamam de vícios
odiosos e maldade brutal. Mais; quem lê as nossas escrituras budistas, escritas
para as massas supersticiosas, não encontrará nelas um demônio tão vingativo,
injusto, tão cruel e tão estúpido quanto o tirano celestial ao qual os cristãos
atribuem prodigamente perfeições negadas em cada página da sua Bíblia.
Autêntica e verdadeiramente, a sua teologia criou o Deus dela apenas para
destruí-lo pedaço por pedaço. A Igreja de vocês é o Saturno da fábula, que tem
filhos apenas para devorá-los.
(A Mente Universal) –
Algumas reflexões e argumentos deveriam embasar cada nova idéia – por exemplo,
nós certamente seremos criticados pelas aparentes contradições existentes. (1)
Negamos a existência de um Deus pensante, consciente, com base em que um tal
Deus deveria ser condicionado, limitado e sujeito a mudança, e portanto não
infinito, ou (2) se ele for descrito para nós como um ser eterno, imutável e
independente, sem partícula alguma de matéria em si, então responderemos que
ele não é um ser, mas um princípio imutável e cego, uma lei. E no entanto, eles
dirão, nós acreditamos em Dhyan Chohans, ou Planetários (“espíritos”, também),
e atribuímos a eles uma mente universal, e isso deve ser explicado.
Nossas razões podem ser
brevemente resumidas assim:
(1) Rejeitamos a
proposição absurda de que pode haver, mesmo em um universo ilimitado e eterno –
duas existências eternas e onipresentes.
(2) Sabemos que a
matéria é eterna, isto é, que não tem começo, (a) porque a matéria é a própria
Natureza; (b) porque aquilo que não pode aniquilar a si mesmo e é indestrutível
existe necessariamente – e portanto não poderia começar a existir, nem pode deixar
de existir; e (c) porque a experiência acumulada de eras incontáveis e da
ciência exata mostra que a matéria (ou natureza) age por sua própria energia
peculiar, da qual nem um só átomo está jamais em estado de repouso absoluto, e
portanto ela deve ter existido sempre, isto é, com seus materiais sempre
mudando de forma, de combinações e propriedades, mas com seus princípios e
elementos absolutamente indestrutíveis.
(3) Quanto a Deus – já
que ninguém jamais e em tempo algum o viu – a menos que ele seja a própria
essência e natureza desta matéria eterna e ilimitada, sua energia e seu
movimento, não podemos vê-lo como eterno nem como infinito, e tampouco como
autoexistente.
Nós nos recusamos a
admitir um ser ou uma existência da qual não sabemos absolutamente nada; (a)
porque não há espaço para ele na presença daquela matéria cujas propriedades e
qualidades inegáveis nós conhecemos completamente bem, (b) porque, se ele é
apenas uma parte daquela matéria, seria ridículo sustentar que ele movimenta e
governa aquilo de que ele é apenas uma parte dependente, e (c) porque se eles
nos dizem que Deus é um puro espírito auto-existente e independente da matéria
– uma deidade extra-cósmica – nós respondemos que mesmo admitindo a
possibilidade de tal impossibilidade, isto é, a existência dele, nós
sustentaríamos que um espírito puramente imaterial não pode ser um governante
consciente e inteligente, nem pode ter nenhum dos atributos atribuídos a ele
pela teologia, e assim um tal Deus se torna novamente uma força cega. A inteligência
tal como encontrada em nossos Dhyan Chohans é uma faculdade que pode pertencer
apenas a seres organizados ou animados – por mais imponderáveis, ou melhor,
invisíveis que sejam os materiais das suas organizações[7].
A inteligência torna necessário o pensamento; para pensar alguém deve ter
idéias; idéias supõem sentidos que são físicos e materiais, e como pode
qualquer coisa material pertencer ao puro espírito? Se for feita a objeção de
que o pensamento não pode ser uma propriedade da matéria, nós perguntaremos:
por quê? Devemos ter uma prova inegável desta afirmativa, antes que possamos
aceitá-la. Ao teólogo, nós perguntaríamos o que havia para impedir que seu Deus
– já que ele é o suposto criador de tudo – dotasse a matéria com a faculdade do
pensamento; e quando nos fosse respondido que evidentemente Ele preferiu não
fazê-lo, e que esse é um mistério assim como uma impossibilidade, nós
insistiríamos em que nos fosse dito por que é mais impossível a matéria
produzir o espírito e pensamento do que o espírito ou pensamento de Deus
produzir e criar matéria.
Nós não inclinamos
nossas cabeças até o pó do chão diante do mistério da mente – porque já o
resolvemos eras atrás. Rejeitando com desprezo a teoria teísta, rejeitamos ao
mesmo tempo a teoria do autômato, que ensina que os estados de consciência são
produzidos pela disposição das moléculas do cérebro; e sentimos um respeito
igualmente pequeno por aquela outra hipótese – a produção de movimento
molecular pela consciência. Então, em que acreditamos? Bem, acreditamos no
muito ridicularizado flogisto (veja o artigo “O Que é Força, o Que é Matéria”,
Theosophist, setembro)[8]
e no que alguns filósofos da natureza chamam de nisus, o movimento ou esforços
incessantes embora perfeitamente imperceptíveis (para os sentidos comuns) que
um corpo faz em relação a outro – as pulsações da matéria inerte – a sua vida.
Os corpos dos espíritos Planetários são formados com aquilo que Priestley e
outros chamaram de flogisto[9],
e para o qual nós temos outro nome. Esta essência, em seu sétimo e mais elevado
estado, forma a matéria da qual são compostos os organismos dos Dhyans mais
elevados e puros, e em sua forma mais inferior ou densa (tão impalpável, no
entanto, que a ciência a chama de energia e força) serve como uma cobertura
para os Planetários do primeiro grau, o mais inferior. Em outras palavras, nós
acreditamos na MATÉRIA apenas, na matéria como natureza visível e na matéria em
sua invisibilidade, como o Proteu[10]
invisível, onipresente, com seu movimento incessante que é a sua vida, e que a
natureza extrai de si mesma já que ela é o grande todo fora do qual nada pode
existir. Porque Bilfinger corretamente afirma que “o movimento é um modo de
existência que flui necessariamente da essência da matéria; que a matéria se movimenta
por suas próprias energias peculiares; que seu movimento é devido à força
inerente a si mesma; que a variedade de movimentos e os fenômenos que resultam
procedem da diversidade das propriedades, das qualidades e das combinações que
são encontradas originalmente na matéria primitiva”, da qual a natureza é o
conjunto, e da qual a ciência de vocês sabe menos do que um dos nossos
condutores de iaque[11]
sabe a respeito da metafísica de Kant.
A existência de matéria,
então, é um fato; a existência de movimento é outro fato, e a auto-existência
ou eternidade e indestrutibilidade deles constitui um terceiro fato. E a idéia
de puro espírito como um Ser ou uma Existência – dê a isso o nome que quiser –
é uma quimera, um gigantesco absurdo.
Nossas idéias a respeito
do mal. O mal não tem existência per se[12]
e é apenas a ausência do bem; e existe apenas para aquele que é transformado em
vítima sua. Ele surge de duas causas e, tanto quanto o bem, não é uma causa
independente na natureza.
A natureza é destituída
de bondade ou maldade; ela segue apenas leis imutáveis quando dá vida e alegria
ou manda sofrimento e morte, destruindo o que havia criado. A natureza tem um
antídoto para cada veneno, e suas leis possuem uma recompensa para cada sofrimento.
A borboleta devorada pelo pássaro se torna aquele pássaro, e o pequeno pássaro
morto por um animal alcança uma forma mais elevada. Essa é a lei cega da
necessidade e da eterna adequação das coisas, e portanto não pode ser considerada
um Mal na Natureza. O verdadeiro mal surge da inteligência humana e sua origem
está inteiramente no homem que raciocina e que se dissocia da Natureza. Só a humanidade,
portanto, é a verdadeira fonte do mal. O mal é o exagero do bem, produto do
egoísmo e da ganância humanos. Pense profundamente e descobrirá que com a exceção
da morte – que não é um mal mas uma lei necessária – e de acidentes, que sempre
terão suas recompensas em uma vida futura – a origem de cada mal, seja pequeno
ou grande, está na ação humana, no homem, cuja inteligência faz dele o único agente
livre da natureza. Não é a natureza que cria doenças, mas o homem. A missão e o
destino dele na economia da natureza é ter uma morte natural provocada pela
velhice; salvo acidentes, nem um homem selvagem nem um animal selvagem (livre)
morrem devido a doenças. Comida, relações sexuais, bebida, são todas
necessidades naturais da vida; no entanto, o excesso delas traz doenças,
miséria, sofrimento mental e físico; e estes últimos são transmitidos como os
maiores males para as gerações futuras, os descendentes dos culpados. A ambição
e o desejo de assegurar felicidade e conforto para aqueles que amamos através
da obtenção de honras e riquezas são sentimentos naturais dignos de elogios,
mas quando eles transformam o homem em um tirano cruel e ambicioso, um
miserável, um egoísta, trazem miséria indescritível para os que estão ao redor
dele; e para nações tanto quanto para indivíduos. Tudo isso então – comida, riqueza,
ambição, e outras mil coisas que deixamos de mencionar – se torna fonte e causa
do mal, seja por causa da sua abundância, seja devido à ausência. Torne-se um glutão,
um devasso, um tirano, e você se transforma em um gerador de doenças, de sofrimento
e miséria humanos. Deixe de lado tudo isso e você passa fome, é desprezado como
um ninguém, e a maior parte do rebanho, os seus semelhantes, transforma você em
um sofredor a vida toda. Portanto, não é a natureza nem uma Divindade
imaginária que devem ser acusadas, mas a natureza humana transformada pelo
egoísmo em algo mau. Pense bem sobre estas poucas palavras; identifique a causa
de cada mal em que você pode pensar e localize a sua origem e terá resolvido
uma terça parte do problema do mal. E agora, depois de deixar de lado, como é
devido, os males que são naturais e não podem ser evitados – e eles são tão
poucos que eu desafio todo o conjunto dos metafísicos ocidentais a
qualificá-los como males ou a atribuir-lhes uma causa independente – direi a
você qual é a maior, a principal causa de cerca de dois terços dos males que
perseguem a humanidade desde que esta causa se tornou um poder. É a religião
sob qualquer forma e em qualquer nação[13].
É a casta sacerdotal, o clero e as igrejas; é nestas ilusões que o homem vê
como sagradas, que ele deve procurar a fonte daquele sem-número de males, que é
a grande maldição da humanidade e que quase domina totalmente o gênero humano.
A ignorância criou os Deuses e a astúcia aproveitou a oportunidade[14].
Veja a Índia, veja a Cristandade, o Islamismo, o Judaísmo e o fetichismo. Foi a
impostura dos cleros que fez com que estes Deuses passassem a ser tão terríveis
para o homem; é a religião que o transforma no beato egoísta, no fanático que
odeia toda a humanidade fora da sua própria seita, sem torná-lo em nada melhor
ou mais moral por isso. É a crença em Deus e nos Deuses que faz de dois terços
da humanidade escravos de um punhado daqueles que os enganam com o falso
pretexto de salvá-los. O homem não está sempre pronto a cometer qualquer tipo
de maldade se lhe disserem que seu Deus ou Deuses exigem o crime – vítima
voluntária de um Deus ilusório, escravo abjeto de seus ministros astuciosos? Os
camponeses irlandeses, italianos e eslavos passarão fome, e verão suas famílias
famintas e sem roupa, para alimentar e vestir seu padre e seu papa.
Durante dois mil anos a
Índia gemeu sob o peso das castas, com os brâmanes engordando só a si mesmos
com o melhor da terra, e hoje os seguidores de Cristo e os de Maomé estão
cortando as gargantas uns dos outros em nome – e para maior glória – dos seus
respectivos mitos. Lembre que a soma da miséria humana nunca será diminuída até
aquele dia em que a parte melhor da humanidade destruir, em nome da Verdade, da
moralidade e da caridade universal, os altares dos seus falsos deuses.
Se for feita a objeção
de que nós também temos templos, de que nós também temos sacerdotes e que
nossos lamas também vivem da caridade ... que se saiba que os objetos mencionados
acima só têm o nome em comum com seus equivalentes ocidentais. Assim, em nossos
templos não há um deus ou deuses adorados, apenas a memória três vezes sagrada
do maior e mais santo homem que já viveu. Se nossos lamas, para honrar a fraternidade
dos Bhikkhus[15], estabelecida
pessoalmente pelo nosso abençoado mestre, saem para serem alimentados pelos
leigos, estes últimos freqüentemente, em números que vão de 5 a 25.000, são
alimentados e cuidados pela Samgha (a fraternidade de monges lamáicos), e a
lamaseria atende as necessidades dos pobres, dos doentes e dos aflitos. Nossos
lamas aceitam comida, nunca dinheiro, e é nesses templos que a origem do mal é
explicada e transmitida para o povo. Lá são ensinadas as quatro nobres verdades
– ariya sacca –; e a cadeia da causação (os 12 nidanas)[16]
lhes dá uma solução para o problema da origem do sofrimento e a sua destruição.
Leia o Mahavagga[17]
e tente compreender, não com a mente ocidental preconceituosa, mas com o
espírito de intuição e de verdade, o que o ser Completamente Iluminado diz no
1º Khandhaka. Permita que eu traduza para você.
“Na época em que o
abençoado Buddha estava em Uruvela, às margens do rio Neranjara, quando ele
descansava sob a árvore da sabedoria Bodhi, depois de haver se tornado
Sambuddha, ao final do sétimo dia, mantendo sua mente fixa na cadeia de causação,
ele falou assim: ‘da Ignorância surgem os samkharas[18]
de natureza tríplice – produtos do corpo, da fala e do pensamento. Dos
samkharas surge consciência, da consciência surgem o nome e a forma, deles
surgem as seis regiões (as seis regiões dos seis sentidos, sendo que o sétimo é
propriedade apenas do iluminado); destes surge o contato, deste a sensação;
desta surge a ânsia (ou desejo, kama, tanha), da ânsia o apego, a existência, o
nascimento, a velhice, a morte, a aflição, a lamentação, o sofrimento, o desânimo
e o desespero. E no sentido inverso, pela destruição da ignorância os samkharas
são destruídos, e a consciência deles, nome e forma, as seis regiões, o
contato, a sensação, a ânsia, o apego (egoísmo), a existência, o nascimento, a
velhice, a morte, a aflição, a lamentação, o sofrimento e o desânimo e
desespero são destruídos. Assim é a cessação de toda essa massa de
sofrimento’.”
Sabendo disso, o Ser
Abençoado fez esta afirmação solene:
“Quando a natureza real
das coisas se torna clara para o Bhikshu[19]
que medita, então todas as suas dúvidas desaparecem, já que ele compreendeu
qual é aquela natureza e qual a sua causa. Da ignorância surgem todos os males.
Do conhecimento vêm a cessação desta massa de infelicidade, e então o brâmane
que medita ergue-se dispersando as hostes de Mara como o sol ilumina o céu.”
Meditação, aqui,
significa as qualidades super-humanas (não sobrenaturais), ou a condição de
arhat nos seus mais altos poderes espirituais.
Do Mestre KH.
O documento acima é a Carta 88 na obra “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett” (Ed. Teosófica, Brasília, 2001)
Loja Independente de Teosofistas
www.FilosofiaEsoterica.com - www.CarlosCardosoAveline.com
Do Mestre KH.
O documento acima é a Carta 88 na obra “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett” (Ed. Teosófica, Brasília, 2001)
Loja Independente de Teosofistas
www.FilosofiaEsoterica.com - www.CarlosCardosoAveline.com
filosofia da natureza.
Neste aspecto, entre outros, seu pensamento teve certa influência sobre
Benedictus de Spinoza
(1632-1677). (N. ed. bras.)
[2]
Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês,
grande ocultista, considerado o formulador do método científico experimental
moderno. A literatura teosófica o considera o verdadeiro autor das obras assinadas
por William Shakespeare. (N. ed. bras.)
[4] 4 Loup-garou – bicho-papão, em francês: fantasma
imaginário que se usa para assustar crianças. (N ed. bras.)
[5] Benedictus de Spinoza foi perseguido por suas idéias
filosóficas mesmo na Holanda do século 17, conhecida por seu clima de liberdade
religiosa. Sua principal obra, Ética, não pôde ser publicada enquanto ele viveu.
Foi acusado de ateísmo e considerado um herege pela comunidade judaica. A
décima-quarta proposição mencionada a seguir pelo Mestre pertence à parte I,
“De Deus”, do seu famoso tratado sobre a Ética (publicado no Brasil pela Ed.
Ediouro). (N. ed. bras.)
[6] Advaita – escola não-dualista da tradição dos Vedas ou
Vedanta; foi fundada por Shankaracharia. (N. ed. bras.)
[8] O
texto O Que é Força, o Que é Matéria? está publicado no volume quatro de
Collected Writtings, de H.P. Blavatsky. Em Letters of H.P.B. to A.P.
Sinnett, p. 8, Blavatsky afirma que o texto é de autoria do Mahatma K.H. O
flogisto, segundo O Que é Força, o Que é Matéria?, constitui de certo
modo uma essência da matéria. O Mahatma sugere que ele corresponde a um nível
do akasha e tem parentesco com a “matéria radiante” do professor William
Crookes (isto é, com a radiatividade e a energia atômica). No mesmo texto, o
Mahatma diz: “Os Ocultistas sustentam que a concepção filosófica do espírito e
a concepção da matéria devem ter uma mesma e única base de fenômenos, acrescentando
que Força e Matéria, Espírito e Matéria, ou Divindade e Matéria, embora possam
ser vistos como pólos opostos nas suas respectivas manifestações, são em
essência e em verdade apenas um; e que a vida está presente tanto em um
corpo morto como em um corpo vivo, na matéria orgânica como na matéria
inorgânica. É por isso que, enquanto a ciência ainda está pesquisando e pode
continuar pesquisando eternamente para resolver o problema do que é a vida, o
Ocultista pode deixar de lado a questão, já que ele alega, com razões tão boas
quanto as possíveis razões contrárias, que a Vida, seja na sua forma latente ou
dinâmica, está em todo lugar. Que ela é tão infinita e indestrutível como a
própria matéria, já que nenhuma das duas pode existir sem a outra, e que a
eletricidade é a verdadeira essência e origem da – própria vida”. (N.
ed. bras.)
[9]
Flogisto – O termo foi criado por Georg Ernest Stahl em 1729.
Joseph Priestley, químico inglês, também trabalhou com este conceito. (N. ed.
bras.)
[10]
Proteu – Na mitologia clássica, um Deus marinho,
filho de Oceano e de Tétis. Conhecia o presente, o passado e o futuro, e
assumia todas as formas possíveis. (N. ed. bras.)
[13]
Nota
editorial de 2017: Esta curta frase -
“É a religião sob qualquer forma e em qualquer nação” - foi involuntariamente
omitida da primeira edição de “Cartas dos Mahatmas”. (CCA)
Sabedoria (pp.
103-104). (N. ed. bras.)
[16] 12
nidanas – Nidana, em sânscrito, significa causa ou essência.
Os 12 nidanas são um conceito fundamental da doutrina budista: o
encadeamento de causa e efeito em todo o transcurso da existência, cuja
compreensão resolve o enigma da vida. Os doze degraus, segundo o Glossário
Teosófico de H.P.B., são: 1. Jati, nascimento; 2. Jaramarana, velhice
e morte; 3. Bhava, o agente cármico que leva ao nascimento; 4. Upadana,
a causa criadora de Bhava; 5. Trishna, amor, seja puro ou
impuro; 6. Vedana, sensação, percepção pelos sentidos; 7. Sparza, o
sentido do tato; 8. Chadayatana, os órgãos de sensação; 9. Nama-rupa,
a personalidade; 10. Vijnana, perfeito conhecimento de tudo que é
perceptível e do encadeamento unitário dos objetos; 11. Samskara, ação
no plano ilusório; 12. Avidya, ignorância. Helena Blavatsky escreveu em A
Doutrina Secreta que os ensinamentos esotéricos sobre a relação entre os Nidanas
e as Quatro Nobres Verdades são secretos (Vol. I, item 7 do Comentário à
Estância I). (N. ed. bras.)
[17] Mahavagga
– parte de uma escritura budista. O Tripitaka, literalmente “três
cestas” em páli, constitui um cânone do budismo hinayana e tem três grandes
divisões, uma das quais é intitulada Vinayapitaka. Vinayapitaka tem por
sua vez quatro subdivisões, entre as quais Khandhaka. Mahavagga, citado
pelo Mahatma, é a maior das duas partes que compõem Khandhaka. Há alguns
anos o Tripitaka está sendo traduzido do chinês para o inglês. O
empreendimento é de grande vulto e de longo prazo. (N. ed. bras.)
[18] Samkharas
– termo páli equivalente a samskara ou sanskaras em
sânscrito. Significa germes e tendências cármicas estabelecidos em vidas
anteriores. Também pode designar as impressões deixadas na mente pelas ações
individuais e pelas circunstâncias externas, e que vão influenciar o futuro a
curto ou longo prazo. (N. ed. bras.)
[19] Bhikshu
– literalmente “discípulo mendicante”, em sânscrito. O equivalente
em páli é bikku. O termo se refere ao discípulo budista, especialmente
dos primeiros tempos. (N. ed. bras.)
- 16:15:00
- 0 Comments